480º – parte II

cachoeira do onça

cachoeira da onça

Dezembro de 2014, primeiros dias de 2015 – Segunda parada, Bananal, SP

Saímos da Serrinha no final da manhã de um domingo de muito sol e calor, com destino à Bananal. Lá na Serrinha havíamos percebido um problema no trailer e precisaríamos encontrar um serralheiro depois que descêssemos, para que o serviço necessário fosse feito e pudéssemos seguir viagem tranquilos, uma vez que o próximo camping ficava no alto de uma serra longa e sinuosa. Só quando estávamos de volta à Dutra é que nos demos conta que era um domingo e que as chances de encontrar um serralheiro àquela altura do campeonato eram bem remotas. Enquanto seguíamos pela Dutra pensávamos no que fazer… Paramos em um posto para pegar um sanduíche para almoçarmos, enquanto a Manu comeu a comida que tínhamos na geladeira. Lá nos indicaram um posto próximo, onde talvez pudéssemos encontrar um serralheiro. Para nossa sorte a borracharia estava aberta e eles poderiam fazer o serviço. Estava um dia muito, muito quente. Paramos o trailer embaixo de uma seringueira, pegamos energia emprestada da borracharia, ligamos o ar condicionado, e ali dentro ficamos eu e a Manu, durante quase 3 horas, enquanto o serviço necessário foi feito. Serviço pronto, ficamos mais tranquilos e seguimos viagem. Saímos do posto às 16:45 h, e duas horas depois estávamos dentro do Camping Chez Bruna. Para chegar ao camping, do centro de Bananal, é preciso subir a Serra da Bocaina na Estrada do Sertão (rodovia SP-247) até o km 28, onde o camping se situa. A subida da serra é uma das coisas imperdíveis dessa viagem: trata-se de uma estrada sinuosa, de baixa velocidade, de onde se tem visuais incríveis. Atualmente a estrada está quase toda asfaltada, sendo 21 km de asfalto em ótimo estado, mais 7 km de estrada de terra em ótimas condições para chegar até o camping. Já subimos essa serra outras vezes e ela ainda não havia sido asfaltada, o que também era um passeio muito legal de se fazer. Hoje, com o asfalto, qualquer veículo pode percorrer esse trajeto imperdível, mesmo para aqueles que não irão acampar lá em cima e só querem passar o dia.

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vale visto da estrada

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vista da estrada

O Chez Bruna é um camping excelente: fica em um lugar muito gostoso, com um gramado super bem cuidado, margeado por um rio, além de contar com o restaurante da Chef Bruna, que além de cozinheira de mão cheia, é uma pessoa incrível, que atende a todos super bem e faz com que as pessoas se sintam super à vontade. É um camping pequeno, familiar, ideal para quem gosta de belas paisagens, silêncio e boa comida. As nossas diárias incluíam café da manhã e uma refeição. Ah, que saudades da comida da Bruna! Além de comida mineira, feita com ingredientes que ela planta ali na horta dela mesmo, é servido truta da região, o divino pão caseiro com patê de truta defumada, queijos e doces, todos preparados ali mesmo.

Ficamos cinco dias por ali, que aproveitamos para ir nas cachoeiras, passear em Bananal, descansar nas tardes quando a chuva aparecia infalivelmente para refrescar o calor de um dia de sol quente.

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entrada do camping

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mesas ao ar livre

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horta

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comida mineira

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saladas

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pão caseiro quentinho com patê de truta

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vista do camping

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nosso acampamento

Um dos passeios que fizemos foi ir até a Cachoeira da Onça. Para ir até lá é preciso voltar pela rodovia e quando começa o asfalto seguir pela bifurcação pela estrada de terra, ao invés de ir sentido à Bananal. São +- 12 km de estrada de terra. A entrada para a cachoeira fica um pouco escondida, mas o acesso é bem fácil e se dá logo depois de uma porteira, caminhando alguns metros pelo pasto até chegar no rio. Aquele dia estava um pouco nublado e acabamos não entrando na água.

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o caminho para a cachoeira da onça

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o caminho para a cachoeira da onça

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cachoeira da onça, quase lá

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cachoeira da onça

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cachoeira da onça

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cachoeira da onça

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cachoeira da onça

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indo embora da cachoeira

Outra cachoeira para ser visitada em um passeio imperdível é a Cachoeira do Bracuí, a segunda maior cachoeira do estado do Rio de Janeiro. A queda d’água começa exatamente onde está a divisa dos estados de SP e RJ, e conta com cinco quedas d’água e mais de 1100 m de queda, indo desaguar lá embaixo, na Baia de Angra dos Reis. Lá de cima do poço de banho a vista do mar de Angra é simplesmente de tirar o fôlego. Para chegar à cachoeira, fomos de carro até a antiga Pousada do Rio Mimoso (km 36 da SP-247), e de lá seguimos a trilha de mais de uma hora em meio à mata. A trilha pode ser considerada de dificuldade média, mais pela distância a ser percorrida do que pelos obstáculos em si. Grande parte do caminho é feito por trilha plana, com alguns pontos enlameados, algumas subidas/descidas, e pontos onde é necessário passar embaixo de árvores que caíram. Mesmo assim, foi uma trilha bastante tranquila de se fazer com a Manu, que foi o tempo todo no carregador ergonômico (nós usamos a mochilik, da Petlik Sling), um pouco com o pai e a maior parte do tempo comigo. Ela ficou bem tranquila, mamou bastante enquanto andávamos e dormiu boa parte do percurso, inclusive estava dormindo quando finalmente chegamos na cachoeira. O carregador é super confortável, tanto para ela quanto para mim, mesmo ela pesando 11 kg. Como a trilha é em meio à mata, todo o percurso foi feito na sombra. Vestimos uma calça nela e passei repelente nos braços e tornozelo para evitarmos qualquer problema com mosquitos, mas na trilha mesmo não tivemos problemas com o mesmo, só chegando na cachoeira é que tinha umas moscas gigantescas que mais incomodaram do que propriamente picaram a gente. Chegando na cachoeira o visual é espetacular. O tempo estava aberto e era possível ver toda a Baia de Angra dos Reis, inclusive as lanchas riscando o mar. Ficamos um pouco na cachoeira, admirando e molhando os pés, pois ali onde chegamos há correnteza e não é indicado entrar para tomar banho. Para quem quer entrar na água, o aconselhável é voltar um pouco pela trilha e atravessar o rio em um ponto mais para cima. Na volta o tempo começou a fechar e no meio da trilha pegamos uma boa chuva. Nessa hora a Manu já estava dormindo no carregador, e cobri ela com um chapéu e seguimos, e ela sequer acordou. Só foi acordar quando entramos no carro. Esse passeio para mim foi um exemplo de que é possível fazer praticamente tudo com os nossos filhos, que quando incluídos e respeitados eles ficam super tranquilos e curtem bastante. Eu sei que provavelmente a Manu não vá se lembrar desse passeio e da vista que tivemos lá de cima. Mas eu tenho certeza da importância que esse momento teve para sua formação, para o seu desenvolvimento, e principalmente para que ela sinta que sua condição de criança não é um empecilho para que seus pais façam as coisas que eles gostam de fazer. Eu tenho certeza, no meu coração, que a Manu sabe e sente que ela nos acrescenta muito, que ela é nossa parceira, nossa companheira. A sua presença enriquece a nossa vivência, pois ela nos ensina a dar um valor ainda maior a cada momento. Através do brilho do olhar dela, da empolgação dos seus gestos a cada descoberta, ela permite que nós também nos deslumbremos com cada novidade, nos faz enxergar coisas que o nosso olhar de adulto já não enxerga mais, nos faz lembrar que a água gelada não é tão gelada assim. E que um bom banho de chuva faz um bem danado!

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trilha para a cachoeira do bracuí

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trilha para a cachoeira do bracuí

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trilha para a cachoeira do bracuí

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chegamos

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a baia de Angra lá embaixo

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mamãe, acordei!

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vista

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vista

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Manu aprovou o visual

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pés descalços

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em cima da divisa dos estados de SP e RJ

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pisantes

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na beira do precipício

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água fria, coração quente

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porque ela mama em qualquer lugar…

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… e mama muito!!!

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a cachoeira do Bracuí vista lá de baixo, na pista da Rio-Santos

Também fomos até a Cachoeira da Usina, que fica bem próxima ao camping, dá para ir a pé ou ir de carro, deixando o carro na estrada e seguindo à pé depois da porteira. Chegando na construção da antiga usina propriamente dita, de onde já se vê a cachoeira, é preciso passar pelo lado esquerdo do prédio para se chegar a ela, coisa que acabamos não fazendo, já que se armava uma bela chuva no céu.

cachoeira da usina

cachoeira da usina

Um outro dia fomos até a Estação Ecológica, onde fica a Cachoeira das 7 Quedas. A Estação fica entrando no km 15 da rodovia SP-247, de onde se segue por mais 10km de estrada de terra. É possível visitar as primeiras quedas, deixando o carro estacionado na estrada e descendo até elas à pé. Para visitar a Estação em si é preciso ligar antes de ir e deixar o nome. Sem isso a entrada não é permitida. De lá é possível acessar a 6ª e 7ª quedas, que tem um acesso bastante tranquilo e um poço ótimo para banho.

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estação ecológica

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estação ecológica

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cachoeira das 7 quedas – 7ª queda

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cachoeira das 7 quedas – 7ª queda

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cachoeira das 7 quedas – 7ª queda

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cachoeira das 7 quedas – 7ª queda

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poço da 7ª queda

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trilha da cachoeira

 

Outro passeio a se fazer é ir até o Centro Histórico de Bananal, onde há a antiga estação ferroviária (1889), o casario colonial e as antigas fazendas da época do Café, verdadeiras jóias preservadas. Em outra oportunidade já havíamos visitado a Fazenda Boa Vista (lá é possível almoçar também), que é um passeio imperdível. Desta vez conhecemos a Fazenda Loanda, onde fizemos um passeio guiado. A casa principal foi toda restaurada e o guia é o próprio proprietário da fazenda, e é também um passeio imperdível. Além dessas duas Bananal conta com outras fazendas históricas onde é possível fazer passeios guiados, com os endereços disponíveis no centro de apoio ao turista no centro da cidade.

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centro histórico

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antiga estação ferroviária

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fazenda loanda

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fazenda loanda

 

Além dos passeios ficamos bastante no camping, onde almoçávamos a comida deliciosa da Bruna e jantávamos no trailer. Quase toda noite uma fogueira era acesa, aproveitando o clima ameno que fazia quando o sol se punha, sendo necessário inclusive tirar calças e blusas do armário. No dia da virada do ano o pessoal do camping se juntou e fizemos um churrasco em torno da fogueira. Diferentemente do Natal, dessa vez a Manu não aguentou ficar acordada e ficou dormindo no trailer, acordando com os fogos que anunciaram o novo ano e logo voltando a dormir.

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a lua do ano novo

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fogueira

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fogueira

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churrasco de ano novo

 

Foram dias muito gostosos que passamos lá, mas no dia 2 arrumamos as coisas e partimos para nossa próxima parada, o meu lugar favorito no mundo: Paraty!

Total parcial rodado: 355 km

Continua…

(para ver a parte I, clique AQUI)

(para ver a parte III, clique AQUI)

(para ver a parte IV, clique AQUI)

 

 

 

 

 

 

 

A volta ao redor do Sol e o piquenique

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A Manu completou sua primeira volta ao redor do Sol e fizemos um piquenique para comemorar. Escolhemos um parque onde não tivéssemos a sensação de estar no meio da cidade, cercados de prédios e trânsito. Queríamos um parque onde pudéssemos ter a sensação de estar no lugar onde passamos todas as comemorações dos 11 mesversários da Manu: o camping! E nada melhor que um antigo camping, não é? Escolhemos o Parque Cemucam (Centro Municipal de Campismo), que funcionava como camping antigamente e fica no município de Cotia, apesar de pertencer à cidade de São Paulo. É um parque enorme, tem churrasqueiras, quadras, circuito para bicicletas e até um viveiro de árvores.

Foi um piquenique para poucas pessoas, só a família mais próxima e os amiguinhos da Manu. Como a festa era para ela, achei justo que tudo o que houvesse para comer ela pudesse comer também, mesmo que ela não fosse comer tudo o que tinha ali. Tudo foi feito e preparado por mim, com exceção dos pães, já que eu não daria conta de fazer a quantidade de pão necessária. Mesmo assim, fiz alguns pães integrais e italianos, que seriam os pães que a Manu poderia comer, caso ela quisesse, já que eu ainda não dou para ela nada que eu mesma não tenha preparado, por não ter controle sobre os ingredientes envolvidos. Sim, eu sou radical com o que ela come! Tem gente radical com o combustível que coloca no carro, eu sou radical com o que alimenta a minha filha!

Então o cardápio foi:

  • legumes e verduras, para serem consumidos com os molhos que eu preparei: pepino, cenoura, nabo, tomatinho cereja, brócolis, acelga, erva doce
  • milho cozido
  • pães da padaria e caseiros
  • molhos: pesto (com noz pecã e sem queijo, já que a Manu ainda não consome laticínios), chimichurri, molho de tahine, molho de mostarda, homus, molho de tomate com ameixa
  • frutas: abacaxi, carambola, kiwi, mexerica, uva, melancia, banana
  • para beber: dois tipos de água saborizada (limão siciliano, alecrim, carambola e gengibre / amora, hortelã, capim limão e cravo da índia), suco integral de uva (sem conservantes e outros aditivos), água natural e vinho branco para os adultos
  • bolo de banana com maçã, frutas secas, noz pecã, especiarias, aveia e cobertura de “geléia” de damasco seco; fiz dois bolos, um com a noz pecã e o outro com castanha de caju

Eu sabia que o cardápio desapontaria alguns adultos e crianças, mas optei por ele com muita consciência e principalmente com muita honestidade em relação ao que eu acredito e em relação à minha filha. Eu também adoro doces e afins, mas acho que a quantidade que consumimos extrapola em muito o que deveríamos consumir mesmo. E paladar é algo que se constrói, e o da Manu está sendo construído. No mundo dela a variedade de sabores é enorme, permito que ela experimente de tudo, desde que seja natural e comida de verdade. Ela já provou uma variedade bem grande de frutas, legumes e verduras (de acordo com o que a natureza produz no decorrer do ano), vários tipos de cereais (arroz, centeio, trigo, aveia, cevadinha, quinoa, amaranto), quase todas as leguminosas, cogumelos e mais recentemente começou a comer carnes. Não há açúcar ou leite de vaca na alimentação dela, então não havia porque ter isso no dia da festinha dela, por uma questão de coerência que EU faço questão de manter. Enquanto escrevo isso fico aqui tentando medir as palavras, porque não quero que isso pareça uma crítica àqueles que fazem diferente disso, que na verdade é uma maioria. Estou expondo apenas o MEU modo de fazer, não querendo dizer que essa é a maneira correta e nem julgando quem faz diferente, estou simplesmente expondo a maneira que escolhemos de conduzir a nossa vida a três.

Voltando ao piquenique…

Colocamos algumas toalhas pelo gramado (que poucas pessoas usaram), usamos a mesa fora do trailer para apoiar a maioria das comidas, balões com gás helio e cataventos. De lembrancinha, vasinhos de lavanda para os adultos e bolas para as crianças. Sol, céu azul, clima ameno, um gramado para as crianças correrem e amigos com quem conversar. Tudo isso junto e tivemos uma tarde super agradável para comemorar o dia que a nossa pequena se juntou à nós aqui nesse mundo. Para comemorar aquele que foi o primeiro dia de todos os outros dias mais felizes da nossa vida!

Algumas fotos…

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antes da festa começar

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antes da festa começar

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mesa montada

foto 2

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ajuda bem vinda pra cortar a melancia

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o bolo

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as fotos das acampadas de cada mês

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copo adotado

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mamando no trailer

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ela dormiu…

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Manu com o mesmo vestido que eu usei no meu aniversário de 1 ano

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a lembrancinha para as crianças

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assoprando as velinhas

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as lembrancinhas para os adultos

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deixando uma mensagem pra Manu

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PS1: pra ver as 12 primeiras acampadas da Manu, aqui

PS2: os molhos fizeram bastante sucesso, mas o molho de tomates com ameixas se superou! receita daqui. recomendo o molho e o site todo. também foi dele as receitas dos molhos de tahine e o homus.

 

o mundo dela

gotas

Quando a Manu ainda era só uma idéia, eu vi uma vez uma reportagem na tv falando sobre bebês sem berço. Falava-se sobre a questão de dar liberdade ao bebê, que poderia, quando acordasse, sair da sua cama e fazer aquilo que ele quisesse, brincar com o brinquedo que ele escolhesse, e também voltar a dormir depois disso, se assim ele desejasse. E aquilo pra mim fez todo o sentido. Aquela idéia ficou lá guardada, esperando o dia em que eu precisasse colocá-la em prática. E daí que antes mesmo de engravidar, os quartos montessorianos entraram em pauta, ela colocou em prática na sua casa, outros links me levaram a ela, e por fim cheguei a ele. Depois de muito ler, estudar, vi que aquele colchão no chão realmente fazia sentido pra mim. Já faz um tempo que eu tenho tentado viver fora do automático (veja bem, tentado, porque nem sempre eu consigo). E para isso acontecer, as coisas precisam fazer sentido, sabe? No coração e na cabeça. As minha escolhas tem que ser uma escolha, tem que fazer sentido, não importa se ela é igual ao que todo mundo faz ou se ela é diferente do que todo mundo faz, desde que ela faça SEN-TI-DO. Porque depois que faz sentido, se pelo caminho algo der errado, fica mais fácil de aceitar, mais fácil de arrumar, e eu não vou precisar procurar alguém pra colocar a culpa, o que me poupa um bocado de energia.

Bom, tudo isso pra dizer que Manu sempre foi um bebê sem berço. Optamos (eu e o Marcos, juntos) por fazer um quarto que seguisse os preceitos da Maria. A gente na verdade não gosta muito desse negócio que colocaram na cabeça das pessoas de enxoval de bebê, por motivos mil. E nós gostamos de colocar a mão na massa. Se der pra gente fazer, a gente faz. Então tá, vamos lá. Precisávamos de um colchão, um colchão que fosse adequado para um bebê, mas que também servisse pra quando ela estivesse maiorzinha. Se o prazo de validade de um colchão é de 5 anos, ele teria que ser útil pelo menos por esse período. Compramos um colchão de solteiro densidade 23. Para o colchão não ficar direto no chão, para evitar friagem e para o colchão respirar, o Marcos fez uma base de mdf que ficou uns 2 cm afastada do chão, com uma borda que serve pra manter o colchão no lugar. Basicamente, o que a Manu precisava era isso. Mas a vida não se faz só de necessidade, também precisa de beleza, de carinho, de cor… Pintamos as paredes de branco, porque eu queria poder ter as cores que quiséssemos no resto. Ai eu tinha que escolher um tecido, porque fizemos um acolchoado na lateral do colchão. Demorou até achar um tecido que não tivesse tema, mas que tivesse cores. Encontramos o tecido, e com ele fizemos as laterais acolchoadas com mdf + espuma do meu antigo colchão de solteiro. Também fiz um futon para colocar ao lado do colchão e ajudar a amortecer quando ela começasse a fazer as travessias colchão-chão e um rolo de espuma, para limitar o espaço quando isso fosse necessário. Tudo feito por nós, hand made total. Então, basicamente o colchão de solteiro ficou dividido em dois espaços: o espaço de dormir (com os acolchoados na parede) e o espaço de brincar. No espaço de brincar colamos um espelho de acrílico na parede e penduramos no teto um gancho onde colocamos uma fita de cetim com uma argola na ponta, que seria o suporte para os móbiles. E assim o cantinho da Manu ficou pronto.

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No resto do quarto colocamos uma cômoda (já que neste quarto não temos guarda-roupa), uma poltrona e um baú. Um tapete antigo que foi feito pela avó do Marcos e um outro tapete em lã de carneiro (eu quando criança sempre tive tapete de lã de carneiro no quarto, e isso faz parte da minha história, ele me remete a ótimas lembranças… queria que a Manu também tivesse o dela). Os tapetes não são apenas decorativos, eles fazem parte do processo de exploração do espaço e a Manu realmente interage com eles. Eles delimitam espaços e tem texturas e cores diferentes para serem explorados.

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Hoje, com a Manu com 9 meses, tenho absoluta certeza que essa foi a melhor escolha que fizemos para o quarto dela, levando em conta o tipo de vida que nós levamos e o tipo de criação que temos procurado praticar. É muito legal ver o ambiente evoluindo junto com ela. A poltrona já saiu de cena e se mudou para o meu quarto. Os móbiles também já não tem mais audiência, mas foram MUITO importantes para o seu desenvolvimento quando ela era bebezinha e ficava um bom tempo olhando para eles. Também foram os móbiles que ensinaram a ela os primeiros movimentos voluntários com as mãos e pés. E o espelho, esse continua lá, e arrisco dizer que é a grande estrela do quarto dela. Ela se olha no espelho desde muito cedo, interage com ele, interage com a gente através dele. Bate, encosta, lambe, sorri. Aliás, sorri sempre que se depara com qualquer espelho. Espelho é sinônimo de diversão garantida.

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E agora, como ela tem autonomia de movimento, o espaço vai ganhando altura para ela, e ela começa a explorar as outras coisas. Descobriu os quadros nas paredes, as gotas de cor que ficam na parede da cama, o móbile de passarinhos do teto, se apoia na cômoda e no baú para ficar em pé. E o mais importante: ali ela é livre, ELA quem escolhe com o que e em que parte do quarto quer brincar. E ela entra e sai do seu quarto a hora que bem entender, o que é fundamental. Eu credito a essa construção do espaço muito do desenvolvimento dela. Um bebê precisa de pouco para se desenvolver, acredito inclusive que o pouco é fundamental e que o muito atrapalha. Um bebê precisa de espaço, para que possa ter liberdade de movimento. Ele precisa ter amplitude no seu campo visual, para que a vida e a curiosidade que lhe despertam não sejam contidas por barreiras físicas. Ele precisa de autonomia para seguir a sua própria natureza. Ele precisa experimentar através de si mesmo.

Eu tenho buscado interferir e direcionar o mínimo possível. Não acho que meu papel tenha que ser de guia, acho que esse é o papel dela, que vai ME guiar para que eu possa acompanhá-la em sua jornada de descobrimento da vida. O meu papel é de proporcionar um ambiente seguro, para que ela saiba que cair faz parte e que levantar também, sem que isso provoque grande estragos. Estou contente no papel de espectadora, vendo o milagre da vida acontecer todos os dias, invariavelmente, bem embaixo do meu nariz.

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