2 anos e uma nova volta ao redor do sol que começou

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E ai que dois anos se passaram desde aquele dia, AQUELE dia. O dia do aniversário de um filho é um dia para se comemorar durante todos os outros dias do ano, em todos os anos da nossa vida. É o dia que você chora enquanto canta parabéns e ouve as pessoas queridas que tanto querem bem à sua filha cantando “muitas felicidades, muitas anos de vida, pra ela tudo!”. É o dia em que eu entendo perfeitamente porquê minha mãe ficava tão feliz nos dias do meu aniversário e nos da minha irmã, e nesse dia eu espero que a Manu se sinta tão amada e querida e especial e importante como minha mãe nos fazia sentir. Se tem um motivo que me faz adorar fazer aniversário é esse: sentir que a gente é amado, sentir que a vida da gente faz a vida do outro fazer sentido, ser mais feliz. Mesmo quando esse outro não está mais aqui. Não era a super festa ou o super presente: era ela abrindo a janela do quarto enquanto me acordava cantando parabéns, o vaso de flores que ela comprava todos os anos, o bolo encomendado no sabor que nós escolhíamos, a alegria com que ela recebia os meus amigos na nossa casa, e nos beijos e abraços que ela nos dava ainda mais nesses dias, numa façanha que só ela era capaz, já que minha mãe sempre nos beijou e abraçou muito. Por isso eu desejo à Manu que nesses dias, nos dias do seu aniversário, ela receba ainda mais amor e não duvide nunca o quão especial e amada ela é.

Esse ano fizemos a festinha dela em casa mesmo, só para os familiares e os amiguinhos bem próximos. Havíamos acabado de voltar de uma viagem onde ficamos mais de um mês fora de casa e tivemos duas semanas para pensar em tudo. Mas como seria uma festa simples, onde o que importava era celebrar aquele dia, e deu tudo certo (ou quase).

Novamente eu optei por fazer somente comidas que a Manu também pudesse comer. Primeiramente porque se a festa é dela, não faz o menor sentido que ela não possa comer, se quiser, tudo o que é oferecido. Segundo porque a gente precisa rever o conceito de comida de festa (assim como precisamos rever nossa alimentação no dia-a-dia, mas hoje o assunto é festa, então vamos nos ater a isso). Terceiro que não é açúcar e fritura que traz felicidade pra criança, não caiamos nessa. Felicidade não é medida pelo nível de açúcar no sangue, doença sim. E sabe, eu tenho pensado muito nisso, na nossa responsabilidade coletiva. Porque sim, somos todos responsáveis pelo mundo à nossa volta, principalmente pelo entorno do nosso próprio umbigo. Porque temos responsabilidade pela comida que oferecemos, a começar por nós mesmos e pelos nossos filhos, mas também para aqueles que visitam a nossa casa. Para não me estender demais em outros assuntos que poderiam ser abordados aqui, vou me ater à comida. Quando a Manu começou a comer, há 18 meses atrás, nós mudamos também a alimentação da casa. Não só ela começou a comer orgânico, como nós também. Por ela não comer comida industrializada, nós também passamos a quase não comê-la. Se não faz bem pra ela, também não faz bem pra mim e para o pai dela. E se eu quero ver minha filha bem, eu preciso estar bem também, cuidar da minha saúde é uma das maneiras mais honestas de amor que eu posso lhe oferecer. E qual seria a coerência de oferecer para outras pessoas, outras crianças, aquilo que eu NÃO ofereço para minha filha e evito para mim mesma? Onde foi que nós perdemos o nosso senso de responsabilidade para com os outros? Eu não sou responsável pela escolha do outro, mas será que isso me isenta de responsabilidade enquanto integrante de um coletivo? Um pai/mãe não tem responsabilidade se a comida oferecida na escola, ou se a lancheira dos amigos é cheia de porcarias? Eu escuto taaaanto as pessoas falando que agora eu fico tomando cuidado com a comida da Manu, mas que quando ela for pra escola ela vai se encher de porcarias, e isso me revolta muito, como se fôssemos obrigados a engolir que isso é uma questão imutável e que não compete à nós, como se não fosse possível atuar junto à escola e aos demais pais para a melhoria da qualidade do que é consumido. Em que momento nós perdemos a força de fazer valer o que é bom em termos de saúde? Em que momento a escola (ou a comida da escola) virou uma fatalidade que temos que colocar goela abaixo? Em que momento a saúde das crianças passa a ser menos importante do que o lado “social”? Por que escolher saúde virou sinônimo de radicalismo? E encerrando, porque esse post não deveria ser sobre isso, mas acabou sendo, segundo o dicionário formal:

ra.di.cal
adj m+f (lat radicale) 1 Pertencente ou relativo à raiz. 2 Que parte ou provém da raiz. 3 Relativo à base, ao fundamento, à origem de qualquer coisa; fundamental. 4 Completo: Cura radical. 

Então, eu faço um apelo: paremos de chamar de radicais pessoas que estão buscando uma alimentação natural, buscando escolhas conscientes. Deixemos o adjetivo radical, no sentido pejorativo, para quem realmente está fazendo coisa ruim por aí. Radicalismo é viver à margem da consciência, deixando que outras pessoas/empresas/interesses decidam por nós.

Bom, vamos à festinha, porque na verdade minha intenção com esse post é mostrar que dá pra oferecer comida saudável e feita com carinho.

A festa foi no meio da tarde, então optamos por torta e sanduíche. Fiz duas tortas com massa do tipo podre (com água e azeite no lugar do leite e da manteiga e farinha de aveia e integral no lugar da branca) e recheios de palmito ou cogumelos com alho poró e quinoa. Os sanduíches foram feitos com pão encomendado na padaria e tinham os seguintes recheios: lombo com purê de maçã, lombo com pasta de feijão branco e cenoura, copa de lombo com hummus, hummus com cenoura. Os defumados, copa e lombo, eu encomendei em um lugar que faz defumados artesanais, e não levam nada além de sal. As pastas eu fiz em casa. Além destas eu também fiz patê de nozes com azeitonas, mostarda forte e maionese de abacate, para comer com pãozinho.

Para beber tinha suco de maçã e água saborizada com amoras, limão e hortelã. Para os adultos, cerveja.

O bolo era de maçã com recheio de geleia de morango, amora e uva passa, com cobertura de doce de coco (o único açúcar do bolo era o açúcar de coco na cobertura) e frutas frescas – morango e physalis. Também fiz curau com leite e açúcar de coco e cocadas macaroon com flor de lavanda.

Vamos às fotos e no final de tudo coloco os links das receitas.

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sanduíches

pra beber

pra beber

mesa do bolo

mesa do bolo

o bolo

o bolo

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  • Defumados DAQUI, feitos com carne de qualidade e sal, nada além disso. Sem conservantes e aquele monte de coisas que encontramos nos defumados e embutidos por aí. Os produtos são deliciosos e eles foram super eficientes na entrega, já que eu acabei fazendo o pedido em cima da hora. Eles não tem loja física, a venda é feita pela internet e eu super recomendo.
  • Pasta de feijão branco , receita AQUI
  • Hummus, receita AQUI
  • O purê de maçã eu fiz com maçã cozida no vapor e batida no processador com um teco de sal rosa do himalaia
  • Patê de nozes com azeitona, receita AQUI
  • Maionese de abacate, receita AQUI
  • Mostarda forte caseira (que é a mesma que vai na receita da maionese), a receita eu adaptei DAQUI. Na verdade cada vez que eu faço essa mostarda eu faço de um jeito, e na minha não vai mel.
  • Curau: 4 xíc. chá de milho verde (fresco e orgânico), 3 xíc. chá de leite de coco (caseiro), 1 e 1/2 xíc. chá de açúcar de coco (mas pode ser menos, achei que ficou doce demais), 1 pitada de sal rosa. Bate o milho com o leite no liquidificador, coa e leva o líquido para a panela junto com o açúcar e o sal até engrossar. Para quem quiser saber mais sobre o açúcar de coco, AQUI tem boas informações.
  • O bolo de maçã eu nem vou passar a receita, porque na verdade quero encontrar uma versão melhor, achei ele meio sem graça. Mas os ingredientes que eu usei foram: várias maçãs, uma banana, uva passa, nozes, farinha de aveia, ovos e extrato de baunilha caseiro. O recheio eu fiz com morangos orgânicos, amoras e um pouco de uva passa, que cozinhei na função geleia da máquina de pão. Fica uma delícia, com um cheiro e cor incríveis, e naturalmente doce.
  • A cobertura do bolo foi uma versão de leite condensado caseira, só que feito com leite de coco caseiro e açúcar de coco, além de uma fava de baunilha. Para fazer leite condensado usa-se, para 1L de leite, 300g de açúcar, que é levado ao fogo baixo por +- 30min, mexendo sempre, até reduzir e dar uma leve encorpada. Feito isso é só bater na batedeira para esfriar e levar à geladeira para terminar de encorpar. Como eu fiz com açúcar de coco ele ficou marronzinho (que é a cor natural do açúcar de coco) e por isso ele ficou mais parecido com um doce de leite do que com um leite condensado. Joguei essa mistura em cima do bolo com generosidade e por cima coloquei morangos e physalis. O bolo ficou lindo e se a receita da massa fosse melhor, teria ficado incrível.
  • As cocadas macaroons, que na verdade são cocadas assadas, eu fiz usando o “bagaço” do coco que sobra quando eu faço o leite. A base da receita eu peguei AQUI, mas usei o açúcar de coco em menor quantidade do que pede a receita e não coloquei mel. Também coloquei flor de lavanda, mas no final ficou forte demais e um pouco enjoativo.

 

 

possante

Quando eu era adolescente, sonhava com o dia em que eu faria dezoito anos e ganharia meu primeiro carro. Na verdade eu sonhava que o meu primeiro carro teria aparência de antigo e motor novo e moderno. Eu sonhava que poderia, junto com o meu pai (que é/era engenheiro mecânico), projetar um carro que fosse só meu, feito só pra mim. Que compraríamos uma carcaça de um carro velho e estiloso e que ele montaria um carro com um motor novo e mais algumas modernidades. Ah, a capacidade infinita dos jovens sonhadores… A verdade é que quando eu fiz dezoito anos eu não ganhei carro nenhum: nem velho, nem novo, e muito menos feito só pra mim. Na verdade quando eu fiz dezoito anos eu estava prestes a sair da casa e da cidade que minha mãe morava pra estudar. E nessa altura do campeonato, o tal pai já tinha quase que abandonado seu papel e definitivamente não estava disposto a dedicar seu precioso tempo aos sonhos da filha.

Bom, mas essa é minha história e vamos deixá-la pra lá. A questão é que eu dei um jeito de realizar esse sonho fazendo um carro pra Manu.

Na verdade eu já havia feito um carro pra Manu, um piloto de testes antes desse aí das fotos. No primeiro eu peguei uma caixa de fraldas, virei ela do avesso pro papelão liso ficar pra fora, coloquei o volante, abri as portas, e ela adorou. Esse foi seu carro durante vários meses, e ela realmente brincava muito no seu carro improvisado. Ai um sábado desses voltando da feira, paramos naquela loja grande e famosa que vende coisas de papelaria e escritório e eu comprei uma caixa de papelão nova, sem desenhos ou impressão de marca de produto. E foi aí que eu pude realizar meu sonho, mesmo que de papelão e tinta, de fazer um carro pra minha filha, com um motor novo e possante que ela mesma se encarrega de colocar pra fazer barulho.

A caixa tem 50x30x22 cm e custou menos de 5 reais, e foi o único gasto que eu tive, pois todo o resto eu tinha em casa. Mesmo sendo uma caixa nova, virei ela do avesso, pra esconder umas especificações técnicas que vem escritas nela. Com a tampa de cima, que não seria usada, fiz o encosto, a moldura do pára-brisas (feita com contact transparente) e os retrovisores (que receberam papel espelhado, desses saquinhos de presente). As portas foram recortadas e ganharam maçaneta de velcro, que eu tive que costurar com um barbante, já que a pequena aqui adora abrir e fechar as portas ad infinitum, e só a cola não segurou. O volante, que eu reaproveitei da primeira versão do carro, é um daqueles suportes de tubo de cds virgens, colocado em um papelão e com um parafuso que fez as vezes de trava mas que permite que ele gire. A chave, item super importante por aqui, é do cadeado da bicicleta e o suporte que faz as vezes de contato é um bico desses de confeitar, de plástico, e que eu nunca usei mesmo. Tem até um controle desses de abrir portão, que era pra ficar igual as chaves daqui de casa.

Bom, o resultado final é esse ai das fotos abaixo, fez um enorme sucesso e é com certeza um dos brinquedos preferidos dela. Como eu já falei em outro post, a impressão que eu tenho é que as crianças sentem nas coisas os sentimentos com que elas são feitas. E esses brinquedos feitos à mão sempre fizeram muito mais sucesso que qualquer outro brinquedo comprado. Aqui em casa eu dou preferência para brinquedos de madeira, pano e papel (e não rola brinquedo licenciado, até porque aqui também não rola tv por enquanto, então ela nem faz ideia do que são esses personagens, pra ela uma galinha é só uma galinha, um porco é só um porco, e por ai vai…) e talvez isso acabe influenciando também nas escolhas dela em relação aos materiais de que as coisas são feitas.

Vamos às fotos:

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Aproveite e clique AQUI para ler um artigo excelente sobre brinquedos que brincam sozinhos, escrito no Lar Montessori.